Casos de racismo mais do que dobram no ES: 'racismo mata e destrói sonhos', diz vítima

Guia Modelo Escrito em 07/06/2025


Em 2024, foram registrados 264 casos de racismo, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Espírito Santo. Em 2018, foram 121 casos. Oito casos de racismo são denunciados em Cachoeiro, em 2025 O número de casos de racismo mais que dobraram no Espírito Santo nos últimos sete anos. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do estado, o crescimento foi de 118%. Por trás de cada número, há uma história marcada pela dor, pela indignação e pela resistência. Em 2018, o Espírito Santo tinha registrado 121 crimes de racismo. Sete anos depois, esse número mais que dobrou: foram 264 casos em 2024. Apenas neste ano, entre janeiro e abril, já foram 82 casos registrados. Racismo mata e destrói sonhos O caso do jovem embaixador da ONU, Luan Herrara da Cruz é um dos que foi registrado na polícia. Em 2020, ele participava de um grupo político na cidade de Castelo, quando começou a receber mensagens racistas, com figurinhas de macaco. 📲 Clique aqui para seguir o canal do g1 ES no WhatsApp Luan Herrara da Cruz foi vítima de racismo no Espírito Santo Reprodução/ TV Gazeta "Não sabia quem tinha enviado a mensagem na época. Mas, após isso, houve as investigações da Polícia Civil e logo detectaram o autor das mensagens. O Ministério Público apresentou a denúncia e hoje está em fase de julgamento", relatou. O crime deixou marcas na vida de Luan, que passou os anos seguintes tentando se recuperar. "Eu tive que fazer tratamento psicológico, acompanhamento com psiquiatra. Por seis meses, eu me isolei dentro de casa, não tinha mais vontade de tomar banho, de comer, de me arrumar. Eu não saía para nada. Me desmotivou totalmente", contou. LEIA TAMBÉM Saiba como denunciar casos de racismo e de injúria racial no ES Mulher denuncia ofensas racistas em banco no ES: 'preta gorda tem que emagrecer'; professor aposentado é preso Mulher é presa por racismo após exigir ser atendida por uma funcionária branca em unidade da Defensoria Pública no ES Para ele, é preciso ação do poder público, como campanhas de conscientização, para evitar que casos como o dele se repitam. E mais do que isso: que as leis também sejam cumpridas e, os agressores, punidos. "Racismo mata, destrói sonhos e ninguém pode ser julgado pela cor de pele, pelo cabelo que tem. Precisamos de respeito e igualdade", disse Luan. Racismo e injúria racial A legislação brasileira estabelece diferenças entre os crimes de racismo e de injúria racial. A diferença da injúria racial para o racismo é que a injúria eu ofendo a dignidade da pessoa, ou seja, a honra subjetiva dela. Já o racismo, eu ofendo um determinado grupo em função da sua cor, raça, religião e etnia” A importância, segundo a advogada, é a vítima identificar o que aconteceu com ela. "Às vezes, a população consegue ver que sofre uma hostilização, contudo, não consegue dar nome, identificar", completou. Casos não registrados O lojista e influenciador Julio Gabriel Santana relatou o preconceito que enfrenta no Espírito Santo Reprodução/ TV Gazeta Apesar do número elevado e do crescimento, ainda há casos que não estão sendo investigados por falta de denúncia. O lojista e influenciador digital Julio Gabriel Santana contou que passar por situações desse tipo constantemente. "Era Natal, eu estava de gorro de papai noel, estava na porta, aguardando os clientes, passou uma senhora de idade, chegou para mim e disse: olha, papai noel tem que ser branco, não pode ser preto, você não parece o papai noel, você parece o Saci de gorro", contou. A sensação que Julio tem é de que, com a internet, recebe mais mensagens desse tipo. “Às vezes eu posto um stories, a pessoa me responde me atacando, falando o que a gente não gosta de escutar. Eu trabalho com isso há muito tempo, mas aumentou bastante de uns tempos pra cá”. Mensagens preconceituosas sendo deixadas nas redes sociais de Julio, no Espírito Santo Reprodução/ TV Gazeta Dados mostram crescimento de casos no estado Os dados divulgados pela Sesp mostram que o problema segue em crescimento. Em 2018, o Espírito Santo registrou 121 crimes de racismo. Sete anos depois, esse número mais que dobrou: foram 264 casos em 2024, um aumento de 118%. Casos registrados de racismo no Espírito Santo A Grande Vitória é a região que concentra a maioria dos casos: 126 apenas em 2024, o que representa quase metade do total no estado. A Região Sul do estado também teve um aumento significativo, de dez casos em 2018 para 43 em 2024. Mesmo com os dados de 2025 ainda parciais, o estado já soma 82 casos até abril. Como identificar que está sendo vítima de racismo É comum que práticas racistas se camuflem em situações cotidianas. Estando ou não evidente, a vítima tem o direito de denunciar qualquer forma de ultraje, constrangimento e humilhação. Uma cartilha do Ministério da Justiça cita as seguintes ações como algumas das principais cometidas pelos agressores: Apelidar pessoas de acordo com características físicas e a partir de elementos de cor e etnia Inferiorizar características estéticas da etnia Considerar a vítima inferior intelectualmente por causa da etnia Ofender verbal ou fisicamente a vítima Desprezar costumes, hábitos e tradições da etnia Duvidar da honestidade e competência da vítima sem provas Recusar-se a prestar serviços a pessoas de diferentes etnias A legislação brasileira define punições específicas para cada situação. Cabe ao delegado e ao promotor avaliar cada caso e indicar se a lei se aplica naquela situação. Como denunciar casos de racismo Casos de racismo e de injúria racial podem ser denunciados em delegacias, pela internet e pelo telefone. Denúncia presencial: se o crime estiver acontecendo é possível chamar a Polícia Militar pelo 190. Os policiais vão até o local e podem prender o agressor e levá-lo à delegacia. Denúncia pela internet: enviar e-mail para a Gerência de Proteção e Defesa dos Direitos Humanos da Secretaria de Estado de Direitos Humanos (Sedh), gppddh@sedh.es.gov.br ou pelo site do Disque Denúncia 181. Denúncia por telefone: O governo federal tem o Disque Direitos Humanos - Disque 100, em que é possível apresentar denúncias de racismo e discriminação. Vídeos: tudo sobre o Espírito Santo Veja o plantão de últimas notícias do g1 Espírito Santo