Lia de Itamaracá e Daúde lançam disco com músicas de Emicida, Céu e mais "Se existe, a gente passa a borracha", diz Lia de Itamaracá ao comentar a desvalorização que a ciranda e o coco de roda ainda enfrentam em parte do Brasil. Aos 81 anos, a pernambucana se une a baiana Daúde, de 64, no álbum "Pelos olhos do mar". Lançado na semana passada, o disco traz releituras e músicas inéditas — compostas por artistas como Emicida, Céu, Russo Passapusso e Karina Buhr. Os compositores escreveram as letras com base apenas no que conhecem das cantoras, explica Daúde — sentada ao lado de Lia durante a entrevista da dupla ao g1. A ideia era deixar a imaginação fluir "sem ficar ligado nisso de que o mercado tem que ser assim ou assado. Ou que isso engaja mais do que aquilo. Foi pura intuição e emoção mesmo". Em "Santo Antônio da Boa Fortuna", por exemplo, Emicida entrelaçou preces e contemplações. Lia e Daúde cantam ali sobre águas de Amaralina, riso de cajuína, confetes e o caminho da luz — tudo embalado por uma delicada melodia que soa como reza. Lia de Itamaracá (à esquerda) e Daúde lançam o álbum 'Pelos olhos do mar – Lia & Daúde ✧ Daúde & Lia' Ravaneli Mesquita / Divulgação Já Céu e Russo Passapusso escreveram "Florestania", que tem uma letra para aplaudir a natureza e o legado dos povos originários. Com batidas dançantes, a canção tem influências que vão do samba ao jazz. O álbum traz ainda referências da ciranda, coco de roda, bolero e maracatu. "Para nós, é muito orgânico estar cantando esses ritmos pretos", diz Daúde. A cantora ficou conhecida em 1997, após lançar um feat com Carlinhos Brown: "Pata Pata", releitura de uma faixa da sul-africana Miriam Makeba. "Desde que vi Daúde, falei ‘meu Deus, essa daí vai comigo'”, afirma Lia. As duas se conhecem desde os anos 90, e vira e mexe uma participa do show da outra. Só agora, porém, lançam um álbum juntas. As Negras Com dez faixas, o disco abre com "As Negras", música lançada por Chico César em 2019. Na nova versão, a letra soa como uma alusão às próprias cantoras, que levam a “Pelos olhos do mar” um misto de espiritualidade, negritude e olhar feminino. Daúde conta que, a princípio, “As Negras” não estaria no disco. "A gente pediu uma música para o Chico, e ele disse ‘olha, até posso compor uma inédita com muito prazer, mas tenho uma aqui que é perfeita para esse álbum’. Quando ouvi, falei ‘caramba, que coisa linda, não tem erro'". "O caminho do negro é sempre muito tortuoso, né? Então, sempre que a gente puder celebrar é importante, porque a vitória também existe", diz Daúde, enfatizando o motivo de sua empolgação por lançar um trabalho com Lia. Lia de Itamaracá (à esquerda) e Daúde lançam o álbum 'Pelos olhos do mar' em 27 de novembro Ravaneli Mesquita / Divulgação Na a Ilha de Itamaracá Cirandeira mais famosa do Brasil, Lia descreve sua trajetória como um caminho de resistência e enaltece os mestres de ciranda e coco de roda — pessoas que dominam os saberes dessas culturas e as passam de geração para geração. "Já morreram alguns, mas ainda tem os filhos, netos desse povo todo", diz Lia. No disco, mestres como Dona Celia, Dona Selma do Coco e Baracho ganham homenagens em "Pout-pourri de Cocos" e "Se Meu Amor Não Chegar nesse São João". Entre as releituras do álbum, está "A galeria do amor", canção lançada por Agnaldo Timóteo (em 1976) como implícita referência à Galeria Alaska, antigo point de homens gays no Rio de Janeiro. A nova versão traz Daúde em um solo vocal. Já o solo de Lia vem no bolero "Quem é?", releitura do hit de Maurilio Lopes e Silvinho. "Sempre cantei essa nas festas de padroeira, em Itamaracá. Ouvia muito em postos de rádio", conta a artista. Ao falar sobre sua relação atual com a música, Lia afirma que compõe de frente para o mar. "Escrevo com um pedaço de pau, na areia", diz ela. "A onda vem, apaga. E eu volto a acender." Após se apresentarem em São Paulo na última semana, as cantoras planejam agora uma turnê pelo Nordeste em 2026. Capa do álbum ‘Pelos olhos do mar – Lia & Daúde ✧ Daúde & Lia’, de Lia de Itamaracá e Daúde Pintura de Manuela Cavas com arte gráfica de Alexandre Calderero
Lia de Itamaracá se junta a Daúde e lança álbum com músicas de Emicida, Céu e Russo Passapusso
Guia Modelo Escrito em 02/12/2025
Lia de Itamaracá e Daúde lançam disco com músicas de Emicida, Céu e mais "Se existe, a gente passa a borracha", diz Lia de Itamaracá ao comentar a desvalorização que a ciranda e o coco de roda ainda enfrentam em parte do Brasil. Aos 81 anos, a pernambucana se une a baiana Daúde, de 64, no álbum "Pelos olhos do mar". Lançado na semana passada, o disco traz releituras e músicas inéditas — compostas por artistas como Emicida, Céu, Russo Passapusso e Karina Buhr. Os compositores escreveram as letras com base apenas no que conhecem das cantoras, explica Daúde — sentada ao lado de Lia durante a entrevista da dupla ao g1. A ideia era deixar a imaginação fluir "sem ficar ligado nisso de que o mercado tem que ser assim ou assado. Ou que isso engaja mais do que aquilo. Foi pura intuição e emoção mesmo". Em "Santo Antônio da Boa Fortuna", por exemplo, Emicida entrelaçou preces e contemplações. Lia e Daúde cantam ali sobre águas de Amaralina, riso de cajuína, confetes e o caminho da luz — tudo embalado por uma delicada melodia que soa como reza. Lia de Itamaracá (à esquerda) e Daúde lançam o álbum 'Pelos olhos do mar – Lia & Daúde ✧ Daúde & Lia' Ravaneli Mesquita / Divulgação Já Céu e Russo Passapusso escreveram "Florestania", que tem uma letra para aplaudir a natureza e o legado dos povos originários. Com batidas dançantes, a canção tem influências que vão do samba ao jazz. O álbum traz ainda referências da ciranda, coco de roda, bolero e maracatu. "Para nós, é muito orgânico estar cantando esses ritmos pretos", diz Daúde. A cantora ficou conhecida em 1997, após lançar um feat com Carlinhos Brown: "Pata Pata", releitura de uma faixa da sul-africana Miriam Makeba. "Desde que vi Daúde, falei ‘meu Deus, essa daí vai comigo'”, afirma Lia. As duas se conhecem desde os anos 90, e vira e mexe uma participa do show da outra. Só agora, porém, lançam um álbum juntas. As Negras Com dez faixas, o disco abre com "As Negras", música lançada por Chico César em 2019. Na nova versão, a letra soa como uma alusão às próprias cantoras, que levam a “Pelos olhos do mar” um misto de espiritualidade, negritude e olhar feminino. Daúde conta que, a princípio, “As Negras” não estaria no disco. "A gente pediu uma música para o Chico, e ele disse ‘olha, até posso compor uma inédita com muito prazer, mas tenho uma aqui que é perfeita para esse álbum’. Quando ouvi, falei ‘caramba, que coisa linda, não tem erro'". "O caminho do negro é sempre muito tortuoso, né? Então, sempre que a gente puder celebrar é importante, porque a vitória também existe", diz Daúde, enfatizando o motivo de sua empolgação por lançar um trabalho com Lia. Lia de Itamaracá (à esquerda) e Daúde lançam o álbum 'Pelos olhos do mar' em 27 de novembro Ravaneli Mesquita / Divulgação Na a Ilha de Itamaracá Cirandeira mais famosa do Brasil, Lia descreve sua trajetória como um caminho de resistência e enaltece os mestres de ciranda e coco de roda — pessoas que dominam os saberes dessas culturas e as passam de geração para geração. "Já morreram alguns, mas ainda tem os filhos, netos desse povo todo", diz Lia. No disco, mestres como Dona Celia, Dona Selma do Coco e Baracho ganham homenagens em "Pout-pourri de Cocos" e "Se Meu Amor Não Chegar nesse São João". Entre as releituras do álbum, está "A galeria do amor", canção lançada por Agnaldo Timóteo (em 1976) como implícita referência à Galeria Alaska, antigo point de homens gays no Rio de Janeiro. A nova versão traz Daúde em um solo vocal. Já o solo de Lia vem no bolero "Quem é?", releitura do hit de Maurilio Lopes e Silvinho. "Sempre cantei essa nas festas de padroeira, em Itamaracá. Ouvia muito em postos de rádio", conta a artista. Ao falar sobre sua relação atual com a música, Lia afirma que compõe de frente para o mar. "Escrevo com um pedaço de pau, na areia", diz ela. "A onda vem, apaga. E eu volto a acender." Após se apresentarem em São Paulo na última semana, as cantoras planejam agora uma turnê pelo Nordeste em 2026. Capa do álbum ‘Pelos olhos do mar – Lia & Daúde ✧ Daúde & Lia’, de Lia de Itamaracá e Daúde Pintura de Manuela Cavas com arte gráfica de Alexandre Calderero