Vídeo registra grito de socorro de mulher trans que morreu após ser agredida Os dois garçons que espancaram Alice Martins Alves após ela ter deixado de pagar uma conta de R$ 22 em um bar de Belo Horizonte foram indiciados por feminicídio, segundo informou a Polícia Civil de Minas Gerais nesta quinta-feira (4). A vítima, uma mulher trans que tinha 33 anos, chegou a ser internada para tratar complicações das agressões, mas não resistiu. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 MG no WhatsApp Para a Polícia Civil, a agressão que levou à morte de Alice foi causada pelo fato de ela ter deixado de pagar a conta do bar, havendo um elemento de brutalidade motivada por "transfobia". "Existiu essa motivação transfóbica como pano de fundo para essa agressão ter sido de forma mais brutal contra Alice. Esses autores perseguiram ela, encurralaram ela, cercearam a liberdade dela. Foi uma ação exclusiva, autônoma, desses dois funcionários", disse a delegada Iara França. De acordo com as investigações, as agressões contra a vítima só pararam com a intervenção de um motoboy, que ouviu os gritos de socorro (veja vídeo acima). "Esses dois garçons, em momento nenhum, pegaram esses R$ 22 na carteira. O interesse deles era realmente punir a Alice pela questão da identidade de gênero dela", completou França. Com o indiciamento, o Ministério Público analisará o caso para, eventualmente, denunciar os investigados ao Judiciário. Se a denúncia for aceita, os acusados viram réus e serão julgados. Pedidos de prisão e passagens pela polícia Segundo o Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o garçom de 27 anos já tinha passagens na polícia por roubo e uso de drogas. No dia 14 de novembro, o DHPP solicitou a prisão cautelar dos dois suspeitos, mas o pedido foi negado pela Justiça. Com a conclusão das investigações, a solicitação da prisão foi feita outra vez. LEIA TAMBÉM: Entregador que socorreu mulher trans após agressão em BH diz que tentou pagar dívida de R$ 22; 'não encosta mais na menina', pediu Câmeras flagraram gritos de socorro Câmeras de segurança flagraram o momento em que Alice Martins Alves, de 33 anos, pediu ajuda e gritou por "socorro" enquanto era espancada na Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, no dia 23 de outubro. Ela morreu em 9 de novembro, depois de ser internada em um hospital para tratar complicações das agressões. Os suspeitos do espancamento foram identificados pela Polícia Civil como funcionários de um bar que Alice costumava frequentar. Eles cometeram o crime devido a um desacordo sobre o pagamento de uma conta de R$ 22, além de uma motivação transfóbica. No vídeo, é possível ouvir a mulher pedindo "socorro" ao menos quatro vezes e, em seguida, repetindo "alguém me ajuda". A sequência das imagens mostra o que seria uma conversa entre um dos autores das agressões e um motociclista que intercedeu pela vítima: Agressor: Motoca, 'cê' também, mano, não envolve em situação que 'cê' não tem nada a ver, não. Motociclista: Ô, mano, eu não envolvi, não. Agressor: 'Cê' 'tá' envolvendo, mano, 'cê' não tem nada a ver com o BO, acaba sobrando 'pra' você também, mano. Motociclista: Isso aqui é "paia", tá ligado? Isso aqui é "paia", entendeu? [inaudível] Agressor: Acaba sobrando 'pra' você também, mano. 'Cê' não tem nada a ver com o bagulho, mano. Motociclista: Agora eu tenho, ué. Agressor: Então vai lá pagar a conta dela, então, ué. Paga lá os R$ 22 e morreu o desembolo. Motociclista: Vamos ver que que dá isso aí. Bater nos outros é fácil. Segundo a Polícia Civil, Alice só não morreu no local do crime porque o entregador interveio, interrompeu o espancamento e chamou o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu). Agredida ao sair de bar Conforme o boletim de ocorrência, a vítima saia de um bar em direção à Avenida Getúlio Vargas quando foi atacada pelos suspeitos. Ainda de acordo com o registro policial, Alice desmaiou e foi socorrida por pessoas no local. Ela sofreu fraturas nas costelas, desvio de septo nasal e perfuração no intestino. A Polícia Civil disse que a mulher tinha o hábito de frequentar o bar. No dia do crime, ela foi sozinha e ficou durante um tempo bebendo. Em determinado momento, levantou-se e foi embora, esquecendo-se de pagar a conta de R$ 22. Por isso, foi perseguida e espancada pelos funcionários. Complicações teriam levado à morte A vítima passou por atendimento na UPA Centro-Sul e foi para casa. Em 2 de novembro, procurou um hospital particular. No dia 5, foi até uma delegacia e registrou a ocorrência. Ela foi encaminhada ao Instituto Médico Legal (IML), onde foi submetida a um exame de corpo de delito. Segundo familiares, ela perdeu 12 quilos desde a data em que foi espancada, teve úlcera no estômago e morreu após um choque séptico, em 9 de novembro. "Ela não queria me ligar porque eu estava fazendo uns tratamentos de pressão alta. Aí no outro dia fui ver se Alice já tinha chegado. Ela estava com nariz sangrando, boca arrebentada, morrendo de dor. Eu falei: filha porque você não me chamou?! Aí de lá pra cá foi só sofrimento. Ela foi decaindo, a saúde dela piorando e eu correndo atrás de médico daqui e dali, mesmo com dificuldade de se locomover e acabou que veio a óbito", lamentou Edson Alves Pereira, pai de Alice. Alice foi velada e enterrada no Cemitério Parque da Colina, em Belo Horizonte, no dia 10. A Polícia Civil informou que o cadáver da vítima não foi encaminhado ao IML para necrópsia depois da morte, porque, em vida, ela já havia sido submetida a um exame de corpo de delito que comprovava as lesões provocadas pelas agressões. LEIA TAMBÉM: Espancamento por R$ 22 em perseguição ao sair de bar: entenda caso Mulher trans morre dias após ser espancada na Savassi, em BH Alice Martins Alves, de 33 anos, foi espancada por um homem desconhecido no dia 23 de outubro de 2025, na Savassi, em BH Redes sociais
Garçons que espancaram mulher trans que deixou de pagar R$ 22 são indiciados por feminicídio
Guia Modelo Escrito em 04/12/2025
Vídeo registra grito de socorro de mulher trans que morreu após ser agredida Os dois garçons que espancaram Alice Martins Alves após ela ter deixado de pagar uma conta de R$ 22 em um bar de Belo Horizonte foram indiciados por feminicídio, segundo informou a Polícia Civil de Minas Gerais nesta quinta-feira (4). A vítima, uma mulher trans que tinha 33 anos, chegou a ser internada para tratar complicações das agressões, mas não resistiu. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 MG no WhatsApp Para a Polícia Civil, a agressão que levou à morte de Alice foi causada pelo fato de ela ter deixado de pagar a conta do bar, havendo um elemento de brutalidade motivada por "transfobia". "Existiu essa motivação transfóbica como pano de fundo para essa agressão ter sido de forma mais brutal contra Alice. Esses autores perseguiram ela, encurralaram ela, cercearam a liberdade dela. Foi uma ação exclusiva, autônoma, desses dois funcionários", disse a delegada Iara França. De acordo com as investigações, as agressões contra a vítima só pararam com a intervenção de um motoboy, que ouviu os gritos de socorro (veja vídeo acima). "Esses dois garçons, em momento nenhum, pegaram esses R$ 22 na carteira. O interesse deles era realmente punir a Alice pela questão da identidade de gênero dela", completou França. Com o indiciamento, o Ministério Público analisará o caso para, eventualmente, denunciar os investigados ao Judiciário. Se a denúncia for aceita, os acusados viram réus e serão julgados. Pedidos de prisão e passagens pela polícia Segundo o Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o garçom de 27 anos já tinha passagens na polícia por roubo e uso de drogas. No dia 14 de novembro, o DHPP solicitou a prisão cautelar dos dois suspeitos, mas o pedido foi negado pela Justiça. Com a conclusão das investigações, a solicitação da prisão foi feita outra vez. LEIA TAMBÉM: Entregador que socorreu mulher trans após agressão em BH diz que tentou pagar dívida de R$ 22; 'não encosta mais na menina', pediu Câmeras flagraram gritos de socorro Câmeras de segurança flagraram o momento em que Alice Martins Alves, de 33 anos, pediu ajuda e gritou por "socorro" enquanto era espancada na Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, no dia 23 de outubro. Ela morreu em 9 de novembro, depois de ser internada em um hospital para tratar complicações das agressões. Os suspeitos do espancamento foram identificados pela Polícia Civil como funcionários de um bar que Alice costumava frequentar. Eles cometeram o crime devido a um desacordo sobre o pagamento de uma conta de R$ 22, além de uma motivação transfóbica. No vídeo, é possível ouvir a mulher pedindo "socorro" ao menos quatro vezes e, em seguida, repetindo "alguém me ajuda". A sequência das imagens mostra o que seria uma conversa entre um dos autores das agressões e um motociclista que intercedeu pela vítima: Agressor: Motoca, 'cê' também, mano, não envolve em situação que 'cê' não tem nada a ver, não. Motociclista: Ô, mano, eu não envolvi, não. Agressor: 'Cê' 'tá' envolvendo, mano, 'cê' não tem nada a ver com o BO, acaba sobrando 'pra' você também, mano. Motociclista: Isso aqui é "paia", tá ligado? Isso aqui é "paia", entendeu? [inaudível] Agressor: Acaba sobrando 'pra' você também, mano. 'Cê' não tem nada a ver com o bagulho, mano. Motociclista: Agora eu tenho, ué. Agressor: Então vai lá pagar a conta dela, então, ué. Paga lá os R$ 22 e morreu o desembolo. Motociclista: Vamos ver que que dá isso aí. Bater nos outros é fácil. Segundo a Polícia Civil, Alice só não morreu no local do crime porque o entregador interveio, interrompeu o espancamento e chamou o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu). Agredida ao sair de bar Conforme o boletim de ocorrência, a vítima saia de um bar em direção à Avenida Getúlio Vargas quando foi atacada pelos suspeitos. Ainda de acordo com o registro policial, Alice desmaiou e foi socorrida por pessoas no local. Ela sofreu fraturas nas costelas, desvio de septo nasal e perfuração no intestino. A Polícia Civil disse que a mulher tinha o hábito de frequentar o bar. No dia do crime, ela foi sozinha e ficou durante um tempo bebendo. Em determinado momento, levantou-se e foi embora, esquecendo-se de pagar a conta de R$ 22. Por isso, foi perseguida e espancada pelos funcionários. Complicações teriam levado à morte A vítima passou por atendimento na UPA Centro-Sul e foi para casa. Em 2 de novembro, procurou um hospital particular. No dia 5, foi até uma delegacia e registrou a ocorrência. Ela foi encaminhada ao Instituto Médico Legal (IML), onde foi submetida a um exame de corpo de delito. Segundo familiares, ela perdeu 12 quilos desde a data em que foi espancada, teve úlcera no estômago e morreu após um choque séptico, em 9 de novembro. "Ela não queria me ligar porque eu estava fazendo uns tratamentos de pressão alta. Aí no outro dia fui ver se Alice já tinha chegado. Ela estava com nariz sangrando, boca arrebentada, morrendo de dor. Eu falei: filha porque você não me chamou?! Aí de lá pra cá foi só sofrimento. Ela foi decaindo, a saúde dela piorando e eu correndo atrás de médico daqui e dali, mesmo com dificuldade de se locomover e acabou que veio a óbito", lamentou Edson Alves Pereira, pai de Alice. Alice foi velada e enterrada no Cemitério Parque da Colina, em Belo Horizonte, no dia 10. A Polícia Civil informou que o cadáver da vítima não foi encaminhado ao IML para necrópsia depois da morte, porque, em vida, ela já havia sido submetida a um exame de corpo de delito que comprovava as lesões provocadas pelas agressões. LEIA TAMBÉM: Espancamento por R$ 22 em perseguição ao sair de bar: entenda caso Mulher trans morre dias após ser espancada na Savassi, em BH Alice Martins Alves, de 33 anos, foi espancada por um homem desconhecido no dia 23 de outubro de 2025, na Savassi, em BH Redes sociais