Residência médica da Unifesp: candidatos relatam irregularidades e pedem anulação de prova

Guia Modelo Escrito em 02/12/2025


Campus de São Paulo da Unifesp Reprodução Candidatos que realizaram a prova de residência médica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) denunciaram ao g1 uma série de irregularidades durante a aplicação do exame. Entre os principais relatos estão envelopes de provas sem lacre, falta de organização dos fiscais, ausência de sacos plásticos para lacrar celulares e até falta de energia elétrica no prédio. O processo seletivo aconteceu no último domingo (30) no prédio da Universidade São Judas, na Mooca, Zona Leste de São Paulo. Com quatro horas de duração, a prova começou por volta das 13h. A taxa de inscrição era de R$ 660. Considerada pelos estudantes um “segundo vestibular”, a residência médica exige anos de preparação. Por isso, a falta de padronização e de segurança no exame provocou indignação generalizada entre os candidatos, que pedem a anulação da prova. Mais de 200 candidatos se reuniram em um grupo nas redes sociais e pretendem entrar com uma ação judicial. Alguns já registraram denúncia na Polícia Civil, na Comissão de Residência Médica (Coreme) da Unifesp e no Ministério da Educação. Procurada, a Unifesp informou que os envelopes das provas são transportados por carro-forte em caixas lacradas. A instituição também afirmou que "houve a notificação de dois envelopes com provas que não estavam lacrados" (leia na íntegra abaixo) . Veja os vídeos que estão em alta no g1 Envelopes sem lacre e distribuição irregular As denúncias mais graves envolveram envelopes de provas e folhas de resposta abertos. A situação foi confirmada por estudantes de ao menos três salas (53, 59 e 88). Uma candidata de São Paulo, que tenta residência em psiquiatria, contou ao g1 que os envelopes com os cadernos de questões chegaram abertos, sem lacre, à sala. “A própria fiscal falou: ‘Gente, o envelope está aberto’. Começou um surto coletivo, porque já tinha acontecido isso na prova da Santa Casa em 2023", relatou. Dois anos atrás a Santa Casa de São Paulo cancelou todas as provas do concurso para residência médica sob suspeita de fraude. Segundo ela, um coordenador chegou a ir até o local, mas somente orientou os alunos a “fazer a prova e depois entrar com recurso no Coreme”. Já na sala 59, um candidato de Salvador disse que o pacote com as folhas de resposta também estava violado. Segundo ele, a fiscal também se mostrou nervosa durante a distribuição das provas. “O que mais me causou estranheza foi ter o pacote da folha de resposta já aberto em cima da mesa. Em concurso, você tem a certeza de que tudo está certo, de que há isonomia. Quando vê algo assim, você fica sem reação", desabafou. Celulares sem lacre e entrada descontrolada Outro problema relatado por diversos candidatos foi a falta de sacos plásticos para lacrar os celulares, como é padrão em processos seletivos e concursos públicos. No próprio edital, a Unifesp informa que "os pertences pessoais dos candidatos, tais como: bolsas, sacolas, bonés, chapéus, gorros ou similares, qualquer tipo de relógio, óculos escuros ou equipamentos eletrônicos, deverão ser lacrados pelo candidato antes do início das provas, utilizando sacos plásticos e etiquetas, fornecidos pela instituição aplicadora exclusivamente para tal fim". Segundo os estudantes que conversaram com o g1, em algumas salas, o procedimento adotado foi apenas pedir para que desligassem os aparelhos — sem lacre, sem conferência e sem recolhimento. Uma candidata de Belém, que veio para a capital paulista apenas para participar do processo seletivo, contou que algumas pessoas chegaram a fazer a prova com o celular no bolso durante o exame aplicado na sala 53. “Não tinha saco para todo mundo lacrar o celular. Tinha gente com celular no bolso, porque não tinha bolsa. Foi um processo muito injusto”, afirmou. A médica de São Paulo reforçou o problema: “Eles não lacraram os celulares. Só pediram para desligar e colocar na bolsa. Isso compromete qualquer prova”. Houve também relatos de desorganização na entrada. Segundo os candidatos, ainda havia gente entrando na sala até 12h30, quando os participantes já deveriam estar confinados. Os portões fechavam às 12h, e o início da prova era às 13h. Falta de energia e tempo desigual No fim da tarde, faltou energia no prédio da São Judas, o que comprometeu a iluminação e o funcionamento de ventilação e elevadores. Segundo os candidatos, a queda de energia afetou salas de maneiras diferentes. Enquanto alguns alunos tiveram a prova interrompida e receberam tempo extra, outros continuaram no escuro, sem compensação de minutos. Estudantes afirmam que não houve comunicação clara sobre quantos minutos seriam repostos, nem padronização entre as salas. Frustração após anos de preparo Todos os entrevistados relataram profunda frustração com o processo. A médica de São Paulo, que tenta psiquiatria, resume: “Foi bastante frustrante. A gente não paga barato para viver esse caos todo”. “Para mim, chegar lá e ver dessa forma uma instituição que eu queria muito, que brilhava os meus olhos, uma das maiores de São Paulo, era um sonho. E nós não somos daqui. Vim de Belém do Pará só para fazer a residência médica aqui. Então é uma frustração sem precedentes", desabafou também a candidata belenense. O concorrente de Salvador ainda compartilhou que passou dois anos se preparando exclusivamente para o processo seletivo: “Você dedica sua vida para isso. Aí chega no dia e vê uma coisa dessas… é muito frustrante.” O que diz a Unifesp "Na prova da fase teórica do Processo Seletivo da Residência Médica 2025/2026, realizada no dia 30/11/2025, na Universidade São Judas, houve a notificação de dois envelopes com provas que não estavam lacrados. Cumpre-nos informar que todos os envelopes de provas do Processo Seletivo 2025/2026 foram transportados em carro forte, dentro de caixas lacradas, com garantia irrestrita da custódio do material. As caixas que continham os envelopes em questão não apresentavam quaisquer sinais de violação. Todos os materiais foram conferidos pelos fiscais conforme procedimento padrão, sem indicação de irregularidade, certificando-se que todas as caixas transportadas para o local da prova estavam devidamente lacradas e invioladas. As caixas contendo os envelopes de prova somente foram abertas no local da prova. Salientamos, contudo, que o lacre é um dos mecanismos de segurança e a custódia da prova foi garantida pelo transporte, verificação da inviolabilidade das caixas e dos envelopes, além da ausência de provas faltantes nos envelopes. Com relação à queda momentânea de energia, todas as salas afetadas tiveram o tempo de prova devidamente prorrogado. A extensão aplicada correspondeu exclusivamente ao período necessário para que o gerador restabelecesse a iluminação de todos os blocos, garantindo que nenhum candidato fosse prejudicado pelo intervalo sem luz. Reiteramos que sempre prezamos pela lisura, transparência e segurança do Processo Seletivo de Residência Médica da Escola Paulista de Medicina/UNIFESP."