Fogo em Hong Kong: bombeiros encontram corpos em escadas; prefeitura disse a moradores em 2024 que risco de incêndio era baixo

Guia Modelo Escrito em 02/12/2025


Como andaimes de bambu contribuíram para o incêndio mais mortal em décadas em Hong Kong Os bombeiros de Hong Kong encontraram corpos de moradores nas escadas e próximos ao telhado quando entraram nos arranha-céus que foram engolidos pelas chamas de um incêndio histórico na semana passada. Autoridades de Hong Kong atualizaram nesta terça-feira (2) para 156 o número de mortos causados pelo incêndio, que se tornou o mais letal da história do território. Cerca de 30 pessoas continuam desaparecidas até a última atualização desta reportagem. ✅ Siga o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp O governo informou que os investigadores concluíram as buscas em cinco dos sete prédios de 31 andares que foram atingidos pelas chamas. Na varredura, eles encontraram cadáveres em escadarias e em telhados de pessoas que ficaram presas enquanto tentavam escapar da fumaça e das chamas. O chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, anunciou nesta terça-feira a criação de um comitê independente liderado por um juiz para investigar a causa do incêndio e as reformas que estavam sendo conduzidas nos edifícios —apontadas como responsáveis por alastrar rapidamente o fogo. Buquê de flores é colocado no local do incêndio no conjunto habitacional Wang Fuk Court, em Tai Po, Hong Kong, em homenagem às vítimas Reuters/Tyrone Siu Em meio às investigações, o Departamento do Trabalho de Hong Kong disse que os moradores do condomínio de arranha-céus foram informados pela prefeitura em 2024 que havia um baixo risco de incêndio no local. O comunicado ocorreu após moradores do Wang Fuk Court terem feito reclamações e expressado preocupação sobre um risco de incêndio potencializado pela reforma. (Leia mais abaixo) O incêndio tomou o noticiário mundial na semana passada e, por conta das proporções que tomou, demorou cerca de 48 horas para ser extinto, mesmo com o trabalho contínuo dos bombeiros para combater as chamas. (Leia mais abaixo) O governo de Hong Kong também informou que outras duas pessoas foram presas por suspeitas de ligação com o incêndio, o que elevou o total de detidos para 15. Moradores alertaram em 2024 sobre riscos de incêndio Vídeo mostra momento em que complexo de arranha-céus pega fogo em Hong Kong Moradores do Wang Fuk Court foram informados pelas autoridades no ano passado de que enfrentavam “riscos de incêndio relativamente baixos” após reclamarem dos perigos causados pelas reformas, informou o Departamento do Trabalho da cidade. Os moradores levantaram preocupações em setembro de 2024, inclusive sobre a possível inflamabilidade da tela usada pelos empreiteiros para cobrir os andaimes de bambu, disse um porta-voz do departamento. Testes realizados em várias amostras da tela nos prédios no momento do incêndio não estavam de acordo com os padrões de retardamento de fogo, disseram autoridades que supervisionam as investigações em uma coletiva na segunda-feira. Os empreiteiros que realizaram as reformas utilizaram esses materiais fora do padrão em áreas de difícil acesso, escondendo-os, na prática, dos inspetores, acrescentaram as autoridades. As autoridades também disseram que a espuma isolante usada pelos empreiteiros para cobrir janelas também alimentou as chamas e que os alarmes de incêndio do complexo não estavam funcionando corretamente. Milhares de moradores da cidade prestaram tributo às vítimas, que incluem nove trabalhadores domésticos da Indonésia e um das Filipinas. O incêndio Incêndio de grandes proporções atinge conjunto de arranha-céus em Hong Kong em 26 de novembro de 2025. Yan Zhao/AFP O complexo, localizado no distrito de Tai Po, possui cerca de dois mil apartamentos e abriga cerca de 4,6 mil moradores, segundo um censo realizado pelo governo em 2021. Cada uma das oito torres tem mais de 30 andares. O Departamento de Bombeiros disse ter recebido o chamado às 3h51 no horário de Brasília (14h51, no horário local) sobre o incêndio. Centenas de agentes foram mobilizados. Horas após o início do combate às chamas, a pasta elevou o alerta para o nível 5, o mais alto da escala. Outros mil policiais foram mobilizados, segundo o governo. A causa do incêndio está sendo investigada, mas as autoridades acreditam que o fogo se espalhou rapidamente por telas de construção verdes e andaimes de bambu que estavam sendo usados em obras de reforma. As doações para os sobreviventes atingiram 900 milhões de dólares de Hong Kong (R$ 618 milhões) até segunda-feira, segundo as autoridades, enquanto um fluxo constante de pessoas depositava flores, cartões e homenagens em um memorial improvisado perto do bloco de edifícios destruídos. O Departamento de Transportes de Hong Kong informou que, devido ao incêndio, uma seção inteira da rodovia Tai Po foi fechada, e linhas de ônibus foram desviadas. A polícia chegou a isolar dois quarteirões vizinhos ao condomínio de prédios por conta do incêndio, que depois foram liberados. Hong Kong tem histórico de incêndios graves. O último de grande impacto ocorreu em 1996, quando 41 pessoas morreram após um fogo causado por soldagem durante reformas internas. O episódio levou a mudanças nas regras de construção e segurança contra incêndios em prédios altos. O uso de andaimes de bambu — tradicional na arquitetura chinesa e ainda comum em Hong Kong — está sendo reduzido após 22 mortes envolvendo trabalhadores entre 2019 e 2024. Pelo menos três incêndios com esse tipo de estrutura foram registrados neste ano, segundo uma associação de vítimas de acidentes industriais. Homem reage a incêndio em conjunto de arranha-céus em Hong Kong em 26 de novembro de 2025. REUTERS/Tyrone Siu Veja onde ocorreu incêndio de grandes proporções em Hong Kong em 26 de novembro de 2025. Veronica Medeiros/arte g1 Incêndio de grandes proporções atinge conjunto de arranha-céus em Hong Kong em 26 de novembro de 2025. REUTERS/Tyrone Siu Incêndio de grandes proporções atinge conjunto de arranha-céus em Hong Kong em 26 de novembro de 2025. REUTERS/Tyrone Siu