Caso Beatriz: assassinato da menina em Petrolina completa 10 anos sem julgamento do acusado

Guia Modelo Escrito em 10/12/2025


Juíza do Caso Beatriz determina que Marcelo da Silva seja julgado por Júri Popular O que era para ser uma noite de alegria e celebração, transformou-se em anos de angústia, dor e ausência. Nesta quarta-feira, 10 de dezembro, o assassinato da menina Beatriz Angélica Mota, que na época tinha sete anos, completa uma década. O crime, ocorrido durante uma festa de formatura em um dos colégios particulares mais tradicionais de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, segue sem desfecho. Para a polícia e a família, a autoria e motivação do crime estão definidas. “A gente tem certeza de que Marcelo da Silva é o assassino de Beatriz e que se ele sair amanhã, ele vai cometer outros crimes contra outras Beatrizes”, afirma Lúcia Mota, mãe da menina. 📱:Baixe o app do g1 para ver notícias de Petrolina e Região em tempo real e de graça Marcelo da Silva foi apontado como suspeito de matar Beatriz somente no dia 11 de janeiro de 2022. A polícia informou que chegou até ele a partir de exames de DNA na faca usada no assassinato. Quando as autoridades fizeram o anúncio da descoberta, ele já estava preso por outros crimes. Na época, Marcelo confessou o assassinato. Poucos dias depois, o advogado de defesa, Rafael Nunes, afirmou que o cliente escreveu uma carta dizendo ter sido pressionado a confessar o crime. Com a identificação do suspeito, que chegou a passar por audiência de instrução em dezembro de 2022, parecia que o caso Beatriz estava próximo de um desfecho. Um ano depois, em dezembro de 2023, a juíza do Tribunal do Júri de Petrolina, Elane Brandão Ribeiro, determinou que Marcelo da Silva fosse julgado por júri popular, o que até agora não aconteceu. “A gente está esperando que o Judiciário realmente dê mais celeridade a isso. A gente criou uma expectativa muito grande esse ano de 2025. A gente teve várias vezes no tribunal conversando com o juiz, com os promotores e sentia que logo aconteceria, mas tem os embargos, a defesa dele sempre dificultando”, diz Sandro Romilton, pai de Beatriz. Marcelo da Silva foi denunciado pela morte de Beatriz Angélica, em 2015 Reprodução Atualmente, o processo está tramitando no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília. “Depois de sete anos de toda aquela luta que a gente precisou travar, eu, sinceramente, não imaginava que nós iríamos ter que travar outra luta contra o Judiciário. Porque são três anos que o processo vem tramitando para levar esse assassino cruel a júri popular”, diz Lucinha. Seguindo em frente Lucinha Mota e Sandro Sandro Romilton, pais da menina Beatriz Angélica Emerson Rocha / g1 Petrolina Mesmo sem a presença física de Beatriz, a família teve que seguir em frente. Um processo que não foi fácil. “Tem que continuar trabalhando, a vida continua. Dizia assim: ‘Infelizmente tem que trabalhar amanhã, infelizmente tem que viver amanhã’. A gente é provedor, tem outros filhos pequenos, tem uma família por trás que estava se desestruturando”, lembra Sandro. O pai de Beatriz, que na época era professor do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, onde o crime aconteceu, passou em um concurso público. A vida de Lucinha também mudou muito. A luta por justiça a levou por caminhos que jamais havia pensado percorrer. Ela entrou para a política, sendo candidata a vereadora em Petrolina nas eleições de 2020 e 2024. Lucinha chegou a atuar no legislativo municipal entre outubro de 2023 e setembro de 2024, ocupando o cargo no lugar do então vereador Júnior Gás (Avante), que perdeu o mandato por fraude na cota de gênero. A estadia de Lucinha na Casa Plínio Amorim foi curta. Filiada ao PSOL na época da eleição, ela perdeu o cargo por infidelidade partidária, já que, no momento em que assumiu a vaga na câmara, estava filiada ao PSDB. A trajetória da mãe de Beatriz na política também conta com candidatura à deputada estadual, em 2022. Em janeiro de 2023, assumiu o cargo de secretária de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco. “A política ela é uma ferramenta muito forte de transformação na vida das pessoas. E quem souber usá-la de forma correta, honesta, vai alcançar a vida de muitas pessoas. Por isso eu estou aqui, por minha filha, pela filha de todas as mulheres”. Para Lucinha, que está prestes a concluir o curso de direito, o caminho que ela percorre hoje é sem volta. “Eu fui obrigada a me transformar nessa mulher que eu sou hoje. De enfrentar um sistema, de enfrentar criminosos perigosos. Porque durante todos aqueles sete anos eu tive que aprender a lidar com esse tipo de situação. Usei todas as ferramentas que foram necessárias para que chegasse à autoria do crime da minha filha. E hoje eu seria egoísta se eu não compartilhasse isso com outras mães, com outras famílias”. O que diz a defesa de Marcelo da Silva Homem que confessou ter matado Beatriz Angélica conta o que aconteceu na noite do crime Marcelo da Silva está preso no presídio de Igarassu, na região metropolitana do Recife, onde cumpre pena por outro crime. Em agosto de 2017, ele foi espancado por moradores após estuprar uma criança de nove anos, na cidade de Trindade. O advogado Rafael Nunes recorreu à Justiça para tentar impedir o júri popular. O recurso tramita no Superior Tribunal de Justiça. “Apontamos o tempo inteiro as incongruências. Um processo muito desafiador, porque Marcelo caiu de paraquedas em uma investigação que durou sete anos. Muitos delegados, força-tarefa do Ministério Público e aí, nas margens de uma federalização, o governo do Estado já tinha concordado em manejar junto ao Ministério Público Federal, a federalização do caso, me cai um DNA milagroso capaz de evitar isso”, questiona o advogado. O advogado sustenta que não foram encontrados materiais genéticos de Marcelo no corpo de Beatriz. “Será que o assassino não suou para dar as facadas em um local fechado daqueles, um calor? Impossível não ter material genético, sangue, suor.” Secretário de defesa social em 2022, Humberto Freire esclareceu, na época, que havia 42 fotos de lesões na perícia feita no corpo de Beatriz, mas a menina foi morta com dez facadas. Advogado Rafael Nunes apresentou carta que disse ter sido escrita por suspeito de matar a menina Beatriz Angélica Mota Pedro Alves/g1 A defesa contesta a confissão do cliente e afirma que segue em busca da absolvição de Marcelo da Silva. “Uma confissão precária que não tem validade jurídica nenhuma do modo que foi feito. Marcelo é um bode expiatório e provaremos isso com facilidade nos tribunais superiores, ele sequer vai chegar a júri popular. E se eventualmente for, será absolvido. Eu não tenho qualquer tipo de dúvida disso”. Entenda o caso Beatriz Angélica Mota Arquivo pessoal / Família Beatriz Angélica, de sete anos, foi morta em 10 de dezembro de 2015, quando estava na formatura da irmã, no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, em Petrolina. Segundo investigações, a menina recebeu dez facadas. Ela saiu do lado dos pais para beber água e desapareceu. Vídeos registraram o momento em que a menina saía da solenidade. O corpo de Beatriz foi achado dentro de um depósito de material esportivo da instituição, com uma faca do tipo peixeira cravada na região do abdômen. A menina também tinha ferimentos no tórax, membros superiores e inferiores. Com a demora para a solucionar o caso, em dezembro de 2021, pouco depois do crime completar seis anos, os pais de Beatriz fizeram uma caminhada de Petrolina até Recife, para pedir justiça. O caso Beatriz Angélica começou a ser solucionado em janeiro de 2022. Na época, a Polícia Científica afirmou que Marcelo da Silva confessou o assassinato. A polícia esclareceu que chegou ao suspeito a partir de exames de DNA na faca usada no assassinato. O DNA encontrado na faca foi comparado com o material genético de 124 pessoas consideradas suspeitas ao longo dos seis anos da investigação. Vídeos: mais assistidos do Sertão de PE