Dólar terá queda de 10% em 2025; veja como Trump, Fed e o Brasil afetaram o câmbio

Guia Modelo Escrito em 30/12/2025


Dólar em queda: como Trump, Fed e cenário brasileiro afetaram o câmbio em 2025 O ano de 2025 foi marcado por uma forte desvalorização do dólar no mundo. No Brasil, a moeda norte-americana caiu 10,29% frente ao real no acumulado até o pregão desta segunda-feira (29), o penúltimo do ano. Trata-se do maior recuo em quase 10 anos: em 2016, a queda foi de 17,8%. Neste ano, o Brasil não foi o único beneficiado. Moedas de outros países emergentes e também de economias avançadas — como euro, franco suíço, iene japonês e libra esterlina — também se valorizaram frente ao dólar. A seguir, veja os principais fatores que explicam a queda do dólar ao longo de 2025. DÓLAR MAIS FRACO: por que Trump parece agir para desvalorizar a moeda — e qual sua estratégia Políticas de Trump Segundo especialistas consultados pelo g1, a desvalorização global do dólar reflete, em grande parte, as políticas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Após a eleição nos EUA, o mercado financeiro esperava uma agenda conservadora e protecionista logo no início do mandato. A aposta era de que o republicano adotaria medidas como aumento de tarifas e corte de impostos já em janeiro, o que acabou não se confirmando. Assim, a moeda norte-americana — que iniciou 2025 cotada a R$ 6,16 — perdeu força ao longo dos meses e acumulou desvalorização de 7,4% ao fim do primeiro trimestre, na comparação com o início de janeiro. Em abril, após Trump anunciar uma série de tarifas de importação sobre parceiros comerciais, o dólar chegou a se valorizar por um curto período, mas o movimento não se sustentou. “Trump começou o ano com mais cautela, promovendo mudanças graduais até o choque tarifário de abril. Isso acabou prejudicando a moeda norte-americana”, afirmou o analista de inteligência de mercado da StoneX, Leonel Mattos. Na prática, além de prejudicar diretamente a balança comercial dos EUA, o aumento das tarifas ampliou a incerteza sobre os rumos da economia do país. Investidores passaram a rever suas posições em dólar, o que aumentou a pressão de venda da moeda e contribuiu para sua desvalorização. Segundo Mattos, o aumento das operações de proteção contra a variação do câmbio (hedge cambial), impulsionado pelas incertezas, também contribuiu para aprofundar a desvalorização global do dólar. 🔎 O hedge cambial funciona como uma proteção contra a variação do dólar. Empresas e investidores firmam contratos para fixar a taxa de câmbio em uma operação, o que garante que o valor a pagar ou a receber corresponda a esse combinado, independentemente da cotação do dia do vencimento. “A volatilidade que o dólar teve incentivou muitos investidores a fazerem hedge. Isso acabou aumentando a perda do dólar”, completa Mattos. Todos de olho no Fed A possibilidade de queda da taxa de juros nos Estados Unidos também se tornou um tema central no mercado financeiro em 2025. No início do ano, a expectativa era que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) promovesse cortes em ritmo e intensidade maiores. A primeira redução das taxas em 2025, de 0,25 ponto percentual, ocorreu apenas em setembro. De acordo com o especialista em investimentos da Nomad Bruno Shahini, vários fatores influenciaram essa decisão do Fed. “Tivemos muita incerteza em relação às políticas do Executivo, além de uma pressão econômica vinda principalmente do mercado de trabalho”, diz. Com um mercado de trabalho mais aquecido, há mais dinheiro em circulação e maior risco de pressão nos preços. Segundo o especialista, esse receio — de que uma inflação elevada manteria os juros altos nos EUA por mais tempo — foi se dissipando ao longo do segundo semestre. Até o momento, o Fed cortou os juros americanos três vezes, reduzindo a taxa da faixa de 4,25% a 4,50% ao ano para 3,50% a 3,75% ao ano — o menor nível desde setembro de 2022. “Os Estados Unidos já cortaram parte da taxa neste ano e podem promover novos cortes”, afirma o analista. 🔎 Na prática, juros menores nos EUA diminuem o rendimento das Treasuries, os títulos do governo americano, que são vistos como os investimentos mais seguros do mundo. O movimento faz investidores buscarem aplicações mais rentáveis em mercados emergentes. Nesse cenário, o Brasil tem se destacado, favorecendo a bolsa e o real. Real x dólar No Brasil, a valorização do real frente ao dólar também foi impulsionada por fatores internos, como a taxa básica de juros em nível elevado e uma percepção menos alarmista sobre as contas públicas do país. Os juros brasileiros estão no maior patamar em 20 anos, o que atrai investidores estrangeiros em busca de ativos com melhores retornos. “O Brasil tem uma das maiores taxas de juros reais [descontada a inflação] do mundo. E isso atrai recursos, ou não deixa sair”, explica o diretor de tesouraria do Banco Travelex, Marcos Weigt. Os especialistas também destacam o compromisso do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, com o objetivo de trazer a inflação para o centro da meta de 3%, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Galípolo assumiu a presidência da instituição neste ano, e havia receio de que o novo chefe do BC pudesse ceder às pressões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para reduzir os juros antes do momento adequado. “O Galípolo está seguindo bem as metas de inflação e está até sendo mais duro do que o mercado imaginava”, diz Weigt. Quanto às contas públicas, especialistas consultados pelo g1 explicam que os investidores iniciaram 2025 bastante preocupados com a situação. “Embora não se possa falar que houve uma grande mudança em 2025, o governo pelo menos tentou ser um pouco mais consistente”, explica Mattos. O Prisma Fiscal, divulgado pela Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda em novembro deste ano, por exemplo, apontou uma melhora da previsão de arrecadação e das receitas, e uma redução das estimativas para a despesa total e a inflação. “A percepção de risco, que foi muito intensa no ano passado, ficou um pouco mais estável este ano e ajudou a manter o real nessa trajetória de valorização”, completa o analista. O que podemos esperar à frente? A expectativa geral dos analistas é de que fatores internos e externos continuem a influenciar a taxa de câmbio em 2026. Em relação ao cenário internacional, eles alertam que ainda há muita incerteza sobre o ritmo da economia americana e seus efeitos sobre os juros, mesmo após Trump ter suavizado seu ímpeto com o tarifaço, com acordos firmados com a maioria dos parceiros dos EUA. “Já faz bastante tempo que vemos uma desaceleração gradativa da atividade, mas ainda não sabemos o quão resiliente está a inflação e o quão fraco está o mercado de trabalho para impulsionar um pouco mais o corte de juros por lá”, diz Mattos. Outro ponto relevante é o fim do mandato do atual presidente do Fed, Jerome Powell, previsto para maio de 2026. A expectativa é de que Trump anuncie um novo nome até o início do próximo ano. “Acredito que o banco central norte-americano continuará independente, mas é fato que a escolha de um novo nome para o Fed traz uma pressão adicional”, diz Weigt, do Banco Travelex. No Brasil, além da perspectiva de início do ciclo de cortes de juros pelo Banco Central, os especialistas alertam que o ano eleitoral volta a concentrar a atenção dos investidores. “O mercado está ignorando a situação fiscal por enquanto, mas no ano que vem isso deve pesar mais nos preços, porque os investidores vão querer saber se o governo eleito estará alinhado com a agenda de superávit e estabilização da dívida pública”, alerta Shahini. Weigt, do Travelex, acredita que a discussão sobre os juros nos EUA seja mais relevante até março do ano que vem. “A partir de abril, o que deve dar o tom para o dólar e o real será a eleição e a expectativa de gastos do governo em 2026 e 2027.” Dólar Reuters/Lee Jae-Won/Foto de arquivo