Filho organiza cortejo no mar para homenagear pai pescador em Jericoacoara: 'Último agradecimento'

Guia Modelo Escrito em 07/06/2025


Ao lado de amigos e familiares, o filho do pescador pôs o caixão do pai em uma canoa e navegou por um caminho especial, que chegou até Pedra Furada, paisagem famosa de Jericoacoara, no litoral cearense. Filho organiza cortejo no mar para homenagear pai pescador em Jericoacoara (CE) O mar de Jericoacoara estava calmo na última quinta-feira de maio, quando Francisco Jhonatan zarpou pela última vez com seu pai, o pescador Francisco das Chagas, falecido no dia 28. Após a morte do pai, Jhonatan decidiu homenageá-lo, fazendo com que, na morte, Chico navegasse pelas águas como fazia em vida: ao lado de amigos e familiares, ele pôs o caixão do pai em uma canoa e realizou um percurso pelo qual o pescador costumava navegar em ocasiões especiais. ✅ Siga o canal do g1 Ceará no WhatsApp O cortejo fúnebre no mar foi realizado no dia 29 de maio, um dia após Chico morrer, aos 54 anos. Jhonatan e seus companheiros levaram o caixão da areia da praia até a canoa e partiram da praia principal da Vila de Jericoacoara com direção à praia da Pedra Furada, onde está a formação rochosa símbolo de Jeri. Conforme Jhonatan, que é conhecido na região como Xico Slim, o caminho traçado durante a homenagem póstuma é o mesmo que seu pai, Chico, fazia nos dias de São José, padroeiro do Ceará, considerado popularmente santo das chuvas e protetor dos pescadores. “É um costume que ele tinha sempre de fazer aquele famoso passeio de São José, que é onde os pescadores saem com seus barquinhos e vão em direção à Pedra Furada, e de lá fazem o cortejo, fazendo aquelas músicas de São José, e ele fazia a questão que eu fosse com ele, ele falava assim 'Filho, vamos lá comigo amanhã’”, relembrou Jhonatan em conversa com o g1. "Esse cortejo, esse passeio que eu fiz antes do enterro dele foi uma coisa muito especial, entre eu e ele, pai e filho mesmo, coisa mesmo emocional, porque ele é um grande pai, um grande guerreiro, meu herói, me salvou de várias", contou Jhonatan. "É o último agradecimento que tive a oportunidade [de fazer]" Amigos e familiares participaram de cortejo fúnebre no mar, uma última homenagem ao pescador Francisco das Chagas Arquivo pessoal/Chico Bento Conforme a família, Francisco das Chagas foi internado em meados de abril após uma série de episódios de mal-estar. No hospital, descobriu que tinha câncer em estágio avançado e, algumas semanas depois, veio a óbito. Antes do pai morrer, porém, Jhonatan o acompanhou no leito do hospital e perguntou se poderia fazer a homenagem no mar. Ele, que é instrutor e competidor de kitesurf, disse ao pai que iria conduzir o barco no qual os dois estariam juntos uma última vez. O pai aceitou. “Não foi por exibição nem nada, foi só para cumprir uma promessa que eu fiz pro meu pai, meu coroa, e acho que isso foi o legado que ele me deixou, de sempre falar uma coisa e sempre fazer, sabe, prometer e arcar com meus compromissos”, afirma. Francisco das Chagas, de regata verde, com o filho Jhonatan em uma praia de Jericoacoara Arquivo pessoa/Francisco Jhonatan Descanso à beira-mar A homenagem a Francisco das Chagas foi filmada pelo instrutor de surf e pescador Chico Bento, amigo de Jhonatan que ajudou a organizar o cortejo. As imagens foram compartilhadas nas redes sociais, acompanhadas de um no texto no qual o filho do pescador se despedia do pai. "A história de um pescador de coração bom se acaba aqui. [...] Sou muito grato por tudo, meu coroa, vivi e viveria tudo de novo contigo, meu coroa, te amo eternamente meu pai, amigo, companheiro, meu herói", escreveu. Antes do cortejo no mar, Chico foi velado em casa. Depois, levado às águas. Após a ida até a Pedra Furada, o grupo de canoas voltou em direção à vila e seguiu para a praia da Malhada, onde está o cemitério local, no qual Chico foi enterrado a poucos metros do oceano para descansar à beira-mar. Caixão de Francisco das Chagas foi levado em cortejo fúnebre no mar antes de ir ao cemitério Arquivo pessoal/Chico Bento Ao g1, Jhonatan contou que, antes, ao saber da morte de um pescador, pensava que a justa homenagem seria um último passeio nas águas. Quando o pai morreu, não pôde deixar de honrá-lo. “Eu tive esse privilégio de fazer com meu pai, um cara muito conhecido, muito querido, muito amado na vila, muito respeitado, um cara que todo mundo tá sentindo a falta dele, porque a energia dele era muito contagiante, o sorriso dele, a alegria dele, enfim, fica fácil falar do meu pai porque é um cara muito incrível”, disse. "O mínimo que eu podia fazer era isso, passar os últimos momentos com ele, foi muito triste, mas ao mesmo tempo, prazeroso poder homenagear ele”. Assista aos vídeos mais vistos do Ceará