Masturbação faz mal à saúde? O que estudos científicos realmente mostram

Guia Modelo Escrito em 26/12/2025


Vício em masturbação: como identificar e quais são os efeitos negativos Ao longo das últimas décadas, a masturbação deixou de ser tratada apenas como tabu e passou a ser investigada pela ciência. Pesquisas observacionais e revisões publicadas na revista científica Archives of Sexual Behavior analisaram seus efeitos sobre o corpo, bem-estar e ajudam a entender em que situações a prática é neutra, benéfica ou merece atenção. Os estudos mostram que os possíveis impactos não estão ligados à frequência em si, mas ao contexto em que a masturbação acontece —especialmente quando aparece associada a sofrimento psicológico, culpa intensa ou comportamento compulsivo. Na prática clínica, essa leitura é compartilhada por especialistas. “A masturbação é uma resposta fisiológica do corpo e faz parte da sexualidade humana”, explica Lilian Fiorelli, ginecologista e especialista em Sexualidade Feminina e Uroginecologia. “Do ponto de vista médico, não há evidência de que ela faça mal à saúde, ao contrário. O que precisa ser avaliado é o contexto em que acontece.” Essa distinção aparece de forma consistente na literatura científica. Estudos publicados em 2019 e 2022 no Archives of Sexual Behavior apontam que eventuais associações negativas —como pior satisfação sexual ou desconforto emocional— surgem principalmente quando a masturbação está ligada à ansiedade, conflitos internos ou imagem corporal negativa, e não ao ato em si. Orgasmo e resposta hormonal Do ponto de vista fisiológico, o orgasmo —seja por meio da masturbação ou da relação sexual— desencadeia uma resposta neuroendócrina bem documentada. Pesquisas experimentais mostram liberação de neurotransmissores como dopamina, serotonina e ocitocina, além da redução do cortisol, o hormônio relacionado ao estresse. “Essa resposta ajuda a explicar por que muitas pessoas relatam sensação de relaxamento, melhora do humor e até facilidade para dormir após o orgasmo”, explica Lilian Fiorelli. Estudos que analisaram essa resposta indicam que os efeitos são transitórios, mas reais, sem evidência de danos ao organismo. A resposta hormonal associada ao orgasmo ajuda a entender por que a masturbação costuma ser relacionada à redução de estresse e tensão. A literatura científica aponta que o aumento de endorfinas após o clímax pode contribuir para alívio momentâneo de dores, como cefaleia e cólicas menstruais, além de favorecer um estado geral de relaxamento. “Não se trata de um tratamento médico”, ressalta Lilian. “Mas a masturbação pode funcionar como um modulador natural do estresse, assim como outras atividades que promovem bem-estar.” Esse efeito também ajuda a explicar relatos frequentes de melhora do sono. A queda do cortisol e a liberação de ocitocina após o orgasmo criam um ambiente fisiológico mais favorável ao descanso, embora especialistas ressaltem que isso não substitui cuidados estruturais com o sono. Estudo aponta que masturbação pode ajudar a aliviar sintomas da menopausa. Deon Black/Pexels Autoconhecimento e saúde sexual Além dos efeitos físicos, a masturbação aparece associada ao autoconhecimento corporal, especialmente entre mulheres. Ainda segundo o estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Oslo, publicado no Archives of Sexual Behavior, a prática pode contribuir para maior consciência do próprio corpo, facilitando a identificação de estímulos prazerosos e de limites. “Conhecer o próprio corpo ajuda a mulher a se comunicar melhor sobre prazer e desconforto”, explica Lilian. “Isso pode refletir positivamente na vida sexual com parceiros, embora essa relação varie muito de pessoa para pessoa.” Outro estudo, esse desenvolvido por pesquisadores da Universidade Johannes Gutenberg de Mainz, mostra que a masturbação pode coexistir com uma vida sexual satisfatória ou surgir como alternativa em períodos de menor desejo ou dificuldades na relação —sem que isso represente, por si só, um problema de saúde. Masturbação sexo Pexels Em que situações a prática pode ser indicada Na prática clínica, a masturbação pode ser orientada como parte do cuidado em saúde sexual em contextos específicos, como na perimenopausa e na pós-menopausa. Com a queda do estrogênio, a mucosa vaginal tende a ficar mais fina, menos elástica e menos lubrificada, o que pode causar dor durante a relação. “O estímulo local aumenta o fluxo sanguíneo da região e pode ajudar a manter a vitalidade dos tecidos”, explica Lilian. Ao analisar a função sexual feminina, os documentos indicam que a estimulação genital regular pode contribuir para conforto e resposta sexual, especialmente quando associada a outras abordagens, como terapia hormonal ou uso de hidratantes vaginais. A médica ressalta, no entanto, que a masturbação não substitui tratamento quando há queixas clínicas. “Ela é um recurso complementar, não uma solução isolada.” Quando a masturbação merece atenção Apesar de ser considerada segura, a masturbação pode merecer atenção quando está associada a sofrimento psicológico. Pesquisas recentes indicam que frequências elevadas só se relacionam a pior satisfação sexual quando vêm acompanhadas de ansiedade, culpa intensa, comportamento compulsivo ou imagem corporal negativa. “Se a pessoa percebe que a masturbação gera angústia, culpa ou interfere na rotina, o foco não deve ser proibir a prática, mas entender o que está por trás desse sofrimento”, orienta Lilian. Do ponto de vista físico, os cuidados envolvem principalmente o uso de produtos adequados. A literatura médica alerta que objetos improvisados ou brinquedos sem certificação podem causar microlesões, alterar o pH da região íntima e aumentar o risco de infecções. Abstinência não traz benefícios comprovados A ideia de que evitar a masturbação traria benefícios à saúde também já foi investigada. Ainda segundo os estudos publicados no Archives of Sexual Behavior, não há evidência científica de ganhos físicos ou emocionais associados à abstinência voluntária da masturbação. Segundo os autores, decisões de evitar a prática costumam estar mais ligadas a crenças morais, culturais ou religiosas do que a efeitos biológicos mensuráveis —e não se associam, por si só, a melhora do bem-estar.