Teatro criminoso. Fantástico mostra como bandidos iludem pessoas com o golpe do bilhete premiado
O golpe do bilhete premiado é um crime que se repete há mais de um século no Brasil. O Fantástico investiga como são as novas armadilhas do esquema, em que criminosos abordam as vítimas com promessas de fortunas fáceis em troca de uma "ajuda" financeira imediata.
O roteiro dos golpistas segue um padrão antigo e é executado por pelo menos duas pessoas.
"Eles escolhem bem a vítima, normalmente próximo de lugares onde tem bancos, alto número de bancos, e são pessoas muito bem apessoadas. Tem um que fala que é religioso, que não pode receber prêmios por motivos éticos e religiosos, mas que tem ali o bilhete premiado. E aí um outro que tá próximo dele e fala, 'Não, eu não acredito, é isso mesmo'? E inclusive checa as fontes para ver se os números batem com aqueles que foram sorteados", explica um delegado ao Fantástico.
Em São Paulo, câmeras de segurança registraram a ação dos irmãos Luiz Cláudio dos Santos e Paulo Cézar dos Santos contra um idoso de 88 anos. O esquema começou com Paulo, que disse ao idoso que tinha um bilhete premiado da loteria, mas não aceitava o dinheiro por causa de sua religião.
Em seguida, Luiz Cláudio, fingindo que não conhecia Paulo, apareceu para "ajudar" e simulou uma ligação para uma falsa gerente da Caixa Econômica Federal, que "confirmava" o prêmio.
Com isso, eles convenceram o idoso a entregar R$ 70 mil em troca do suposto bilhete premiado, que acabou sendo um envelope de papel picado. "Parece que eles me hipnotizaram. Eu fazia tudo o que eles mandavam", conta a vítima.
Outra vítima fez um empréstimo de R$ 100 mil após ser abordada por duas mulheres na rua. Uma das golpistas seria a vencedora, uma senhora que ameaçou rasgar o bilhete premiado. A vítima chegou a suspeitar de golpe, mas acreditou após conhecer uma "psicóloga", que a convenceu a entrar na suposta divisão de um prêmio de R$ 13 milhões.
Em São José dos Campos, uma idosa perdeu R$ 3,25 milhões em 14 depósitos realizados ao longo de um mês. Ela exauriu todas as economias de uma vida e ainda se comprometeu com empréstimos bancários antes de perceber o golpe.
Golpe ainda faz novas vítimas
Documentos históricos mostram que essa fraude já ocorria em 1900. Mesmo sendo um crime amplamente divulgado, os estelionatários mantêm a eficácia ao escolherem locais próximos a bancos e apresentarem boa aparência.
Normalmente, o público-alvo é de idosos. Psicólogos afirmam que os criminosos "minam a capacidade de resistência" das vítimas através do convencimento e da pressão emocional. Além disso, o sentimento de vergonha após o prejuízo é o maior efeito psicológico, o que muitas vezes dificulta a denúncia dos casos à polícia.
A Polícia Civil identifica uma família especializada nesta prática, com registros criminais que remontam a investigações de 2009. Enquanto os irmãos Luiz Cláudio e Paulo Cézar estão presos, Viviany Araújo Estaninslau, mulher de Paulo, segue foragida e tem a prisão decretada.
O número de ocorrências cresce em São Paulo, com 382 casos registrados pelo Deic até dezembro de 2025. Os investigadores acreditam que as estatísticas reais são ainda maiores, pois muitas vítimas sofrem em silêncio por medo ou constrangimento.
A Caixa Econômica esclarece que não realiza conferência de bilhetes premiados por telefone ou internet, apenas de forma presencial nas agências. A Febraban orienta que os cidadãos nunca entreguem dinheiro a desconhecidos e sempre registrem boletins de ocorrência em casos de fraude.
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