Enquanto a paz não vem, Europa se mantém em alerta, preparando a população para um confronto maior
A Europa segue em constante estado de alerta enquanto não há acordo de paz entre a Rússia e Ucrânia. Diante das ameaças seguidas do presidente russo, Vladmir Putin, vários países têm adotado medidas concretas para a possibilidade de um confronto maior.
É o caso da Finlândia, que vem intensificando exercícios militares e fortalecendo a cultura de sobrevivência entre civis. O país vive em estado de alerta e investe pesado em prontidão. Atualmente, o Exército finlandês conta com 900 mil reservistas em uma população de apenas 5,5 milhões de habitantes.
O 'fantasma russo'
O "fantasma russo" é uma preocupação histórica, já que o país foi invadido pela União Soviética em 1939 e perdeu cerca de 10% de seu território. Após décadas de neutralidade, a Finlândia entrou para a OTAN em 2023, o que aumentou a fronteira terrestre da aliança com a Rússia em 1.340 quilômetros.
O secretário-geral da organização, Mark Rutte, pediu em novembro que os países membros intensifiquem esforços para evitar uma guerra de grandes proporções. "Nós somos o próximo alvo da Rússia", disse.
No Círculo Polar Ártico, exercícios militares conjuntos com Suécia e Reino Unido ocorrem pelo menos seis vezes por ano. Os soldados enfrentam condições extremas, com temperaturas que chegam a 18 graus negativos e falta de luz solar no inverno.
O coronel Marko Kivelä explica que a preparação no frio intenso é vital para a sobrevivência das tropas, exigindo técnicas para manter roupas secas e alimentação quente.
Embora o serviço militar seja obrigatório para homens, o número de voluntários cresce no país. A jovem Rebecca, que se inscreveu voluntariamente, afirma que sente ser seu dever diante da atual situação geopolítica global.
A percepção de prontidão é compartilhada pela sociedade, que entende a necessidade de estar preparada para cortes de água, energia ou conflitos armados.
A rotina de adestramento militar afeta a vida de moradores locais, como o caçador Hannu Ovaskainen. O ex-combatente de 58 anos vive na Lapônia e perde o acesso à sua cabana na floresta durante os frequentes exercícios do Exército.
O conceito de preparação está presente até na vida de estrangeiros, como o brasileiro Filippo Dias. Morando na Finlândia há sete anos, o guia e estudante carrega diariamente uma mochila com itens essenciais de sobrevivência. Ele transporta faca, lenha e uma chaleira para derreter neve, seguindo o ditado local de que "não existe clima ruim, mas sim roupa inapropriada".
Abrigos antiaéreos
A Finlândia possui hoje mais de 50 mil abrigos de defesa civil espalhados pelo país. Muitos desses espaços estão localizados no subsolo de prédios comuns, como dormitórios de estudantes, e servem para emergências imediatas. As estruturas contam com suprimento de água potável e são projetadas para abrigar a população de forma rápida e organizada.
Os maiores abrigos do país são escavados profundamente na pedra para resistir, inclusive, a ataques nucleares. Em tempos de paz, essas instalações ganham funções multiuso e operam como estacionamentos ou ginásios esportivos.
Essa estratégia permite que o alto investimento em segurança também atenda às necessidades cotidianas da comunidade e dos negócios locais.
Um exemplo dessa infraestrutura é o Santa Park, um parque temático dedicado ao Papai Noel em Rovaniemi. O local é, na verdade, um abrigo comunitário que pode ser convertido em poucas horas para receber moradores em caso de guerra.
Kenneth Tuomi, CEO do parque, destaca que a ideia é combinar o entretenimento com a segurança de uma caverna projetada para proteção civil.
Enquanto a Finlândia mantém sua "defesa disfarçada de diversão", outras nações europeias adotam posturas mais diretas. Alemanha, Holanda e França distribuem manuais de sobrevivência e simulam combates em áreas urbanas. Para o governo finlandês, a preparação minuciosa não serve para gerar pânico, mas sim para garantir que a população mantenha a calma diante de qualquer ameaça.
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